terça-feira, 14 de setembro de 2010

Pedaços de quebra-cabeças

As lágrimas continuam escorrendo pelo meu rosto, agora com mais frequência e intensidade.
Pego mais uma dose de Whisky, a sétima talvez.
A cabeça roda, mas isso parece anestesiar a dor.
Uma dor inexplicável, sem motivo conhecido, ou alguma razão concreta.
O Whisky ajuda, mas não faz com que as lágrimas parem de descer pela minha bochecha.
Aperto 'play' e começa a tocar Bob Dylan, pego uma caneta e um papel, escrevo uma carta qualquer e mando para um endereço qualquer, só por distração. Na carta contém meu sentimento e manchas de gotas das lágrimas que não cessam.
Pego meu violão e tiro dele notas aleatórias que não formam melodia alguma, só expressam o que ainda resta dentro de mim, resquícios de sentimentos que no fim não formam coisa alguma, são apenas pedaços de um quebra-cabeça interminável.

Minha alma

Estava deitada no chão, com os abraços abertos como se quisesse abraçar o mundo. Vestida apenas pela nudez, seu corpo estava ali, sua alma não.
Sua alma estava em outro lugar, vagando pelos becos de sua própria cabeça, ela estava perdida em seu próprio labirinto, estava perdida em seu próprio beco sem saída.
Eu, na verdade. Eu estava perdida em mim, perdida dentro de minha confusão, perdida pelos caminhos que minha mente traçava.
Minha alma havia saído do meu corpo, ele continuava lá no chão frio, mas minha alma, ah minha alma estava quente, quente e leve. Quente, leve e se sentindo livre. 
Se sentindo livre para encontrar algum sentido.
Minha alma sobrevoa o limite da lucidez, se joga em um abismo de loucura. Minha alma gosta de se perder, ela faz isso a todo momento.
Minha alma gosta de brincar com si mesma, gosta de perder a razão, gosta de tudo que é irreal na medida certa para ser encantador.
Minha alma agora ultrapassou o limite da lucidez, agora ela dá voltas em si mesma, dança em volta daquele corpo no chão, dança como se estivesse livre de si mesma.
Minha alma me liberta, e canta uma canção qualquer. Minha alma faz do vento uma canção qualquer.
Minha alma tenta fugir de mim, mas não consegue. Faz tudo o que quer fazer mas no final ela sempre volta

Domingo sangrento

Sua pele era branca, pálida para dizer melhor, os cabelos pretos e lisos caíam sobre os ombros. Os olhos carregavam a culpa que sua consciência ignorava.
Quem a conhecesse sabia que suas mãos eram sujas de sangue. Sangue que foi tirado com água, mas que deixou marcas, marcas indescritíveis.
Agora ela estava deitada no chão do quarto, observando o céu negro, sem nenhuma estrela, havia apenas a lua e uma imensidão de vazio, puro vazio.
Ela parecia um anjo... um anjo caído. Sua expressão era encantadora, mas encantava tanto quanto mutilava.
Ela parecia enxergar além daquela imensidão vazia que era o céu, ela parecia se identificar com o que observava. Ela era tão vazia quanto aquela noite.
Se esticou até alcançar a faca que estava no pé da cama, passou o dedo na lâmina para ver se estava afiada, um filete de sangue escorreu e pingou na sua bochecha.
Ela o limpou delicadamente com a outra mão, e com a boca fez estancar o líquido que escorria do ferimento.
Se levantou, ligou o rádio e estava tocando "Sunday Bloody Sunday".
Sua boca reproduziu um sorriso, mas, era apenas a reprodução que seus lábios faziam ao escutar uma voz como aquela.
Enfiou a faca na boca do estômago, e sentiu o sangue ainda quente escorrer pelo seu corpo que estava nu.
Vermelho no branco, encantador. Ela estava encantadoramente linda e sombria.
Ainda sorria enquanto sentia sua morte a possuindo e esvaziando suas veias, levando com ela o que restava de humanidade e vida.
A última coisa de que se lembraria seria de ouvir: "I'll wipe your tears away, I'll wipe your bloodshot eyes, sunday, bloody sunday...".
Foi um domingo sangrento, como foi todo o resto da sua vida.