terça-feira, 14 de setembro de 2010

Domingo sangrento

Sua pele era branca, pálida para dizer melhor, os cabelos pretos e lisos caíam sobre os ombros. Os olhos carregavam a culpa que sua consciência ignorava.
Quem a conhecesse sabia que suas mãos eram sujas de sangue. Sangue que foi tirado com água, mas que deixou marcas, marcas indescritíveis.
Agora ela estava deitada no chão do quarto, observando o céu negro, sem nenhuma estrela, havia apenas a lua e uma imensidão de vazio, puro vazio.
Ela parecia um anjo... um anjo caído. Sua expressão era encantadora, mas encantava tanto quanto mutilava.
Ela parecia enxergar além daquela imensidão vazia que era o céu, ela parecia se identificar com o que observava. Ela era tão vazia quanto aquela noite.
Se esticou até alcançar a faca que estava no pé da cama, passou o dedo na lâmina para ver se estava afiada, um filete de sangue escorreu e pingou na sua bochecha.
Ela o limpou delicadamente com a outra mão, e com a boca fez estancar o líquido que escorria do ferimento.
Se levantou, ligou o rádio e estava tocando "Sunday Bloody Sunday".
Sua boca reproduziu um sorriso, mas, era apenas a reprodução que seus lábios faziam ao escutar uma voz como aquela.
Enfiou a faca na boca do estômago, e sentiu o sangue ainda quente escorrer pelo seu corpo que estava nu.
Vermelho no branco, encantador. Ela estava encantadoramente linda e sombria.
Ainda sorria enquanto sentia sua morte a possuindo e esvaziando suas veias, levando com ela o que restava de humanidade e vida.
A última coisa de que se lembraria seria de ouvir: "I'll wipe your tears away, I'll wipe your bloodshot eyes, sunday, bloody sunday...".
Foi um domingo sangrento, como foi todo o resto da sua vida.

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