sábado, 11 de setembro de 2010

Folhas de outono


Era uma manhã de outono, uma doce manhã de outono.
Sentada no parapeito da janela, observando as folhas caindo das árvores, e o passarinhos que passavam voando em uma tranquila felicidade.
Na sua antiga vitrola tocava um disco do BB King.
Seu pensamento ia e voltava entre ele e as belas folhas avermelhadas que caiam das árvores.
Como ela queria que tudo voltasse e as coisas fossem diferentes.
Acabou de tomar o capuccino e resolveu que não iria ficar sentada remoendo aquela dor, deixou a caneca em cima do criado mudo, pegou a máquina fotográfica e fez questão de deixar o celular em casa.
No caminho observava tudo o que acontecia em sua volta, crianças jogando bola na rua, um casal de namorados lendo um livro no parque, uma adolescente deitada em um banco observando o céu, um belo jovem com um cigarro na mão.
Fotografou tudo, desde as folhas que insistiam em cair de todas as árvores, até o belo jovem com o cigarro na mão.
Quanto tempo ela havia ficado dentro de casa? Não sabia ao certo, havia perdido a noção do tempo.
Quanto coisa ela havia perdido todo esse tempo, isso sim ela sabia. Muitas coisas ela havia perdido, muitas coisas.
Se sentou na grama do parque em que ela havia fotografado o casal e ficou olhando as fotos na câmera, quando alguém se sentou ao seu lado.
Olhou para o lado um pouco tímida, era o belo jovem que estava com o cigarro e que ela tinha fotografado, ele estava agora olhando para ela.
No momento que ela olhou em seus olhos só veio uma coisa em seu pensamento: "Ainda bem que as folhas de outono me fizeram sair de casa".

Ainda os vejo indo e vindo .

Há quanto tempo eu estava ali sentada? Não sei dizer. Não sei dizer ao menos que horas são agora.
Há tempo joguei meu relógio fora, joguei fora minhas antigas roupas, e tudo que me prendia ao passado.
Os discos, os livros, e tudo mais que fazia parte de mim.
Doeu, doeu muito abrir mão de tudo o que eu era, de tudo o que eu amava, de tudo o que era meu chão.
E agora? Estou aqui, sentada na sarjeta, com as gotas da chuva molhando o meu rosto, e libertando o último resquício do meu passado que ainda sobrevive em mim.
Eu vi pernas indo e vindo a noite inteira, algumas paravam, observavam e iam embora. Aqui ninguém pára por muito tempo, aqui ninguém tem tempo.
O tempo possui as pessoas, e não o contrário. A vida possui as pessoas. A cidade possui as pessoas.
As pessoas não são donas de si, elas se venderam para o tempo, para a vida, para a cidade, para alguém.
Almas vendidas, que vão e vem a cada minuto.
Agora não mais, agora a cidade parou. A cidade dormiu.
Sempre tem alguma alma que ainda perambula por aqui, mas essas são as que não se venderam, as que se mantiveram firme, e agora estão à procura de alguma sarjeta para serem acolhidas, e assim como eu, passarem a noite vendo pernas indo e vindo, carregando almas que não param, não te enxergam, apenas observam alguma vezes.
Agora eu me deito, porque o cansaço me venceu. Estou esperando que algo venha e me tire daqui.
E não leia errado, eu quero algo, e não alguém.
Cansei.
O mundo me cansou, o passado me cansou, essas almas me cansaram.
Por favor, algo, me tire daqui, me leve para o céu, ou para o inferno, mas me tire daqui.

Me dê algo a mais

Completo o copo com conhaque, acendo mais um cigarro, e me ajeito no sofá.
Entre uma tragada e um gole, sinto meus olhos arderem.
Às vezes a impressão que tenho é a de que vou explodir e virar milhares de moléculas, sem importância alguma.
Às vezes eu não tenho a mínima vontade de seguir em frente.
E na maioria dessas vezes, é porque eu não encontro um motivo, uma razão para continuar.
Me desculpe se a sua idéia de felicidade é medíocre, a minha não é.
Felicidade pra mim também não é encontrar o amor da minha vida, e viver feliz para sempre lavando roupa e cuidando dos filhos.
Eu quero um veneno anti-monotonia (como já dizia o poeta), quero mudanças, quero diferenças, quero espetáculos, quero viver, quero morrer, quero ressuscitar.
Quero fechar os olhos, e enquanto o filme da minha vida passar na minha mente, eu ter certeza de que valeu a pena. De que todos os sacrifícios serviram para algo, de que não foi em vão, de que eu venci, e da maneira errada, pelo caminho mais difícil, escolhendo o lado mais complicado.
E não importa se daqui a alguns anos eu continuar na mesma situação financeira, não importa se eu nunca puder conhecer a tão adorada França. Eu só preciso de um violão e um motivo pra continuar.
Não quero me perder na ilusão de uma felicidade inventada.
Nada nunca vai ser perfeito ou fácil, aceite isso e me dê mais um cigarro e mais um gole, por favor