sábado, 11 de setembro de 2010

Ainda os vejo indo e vindo .

Há quanto tempo eu estava ali sentada? Não sei dizer. Não sei dizer ao menos que horas são agora.
Há tempo joguei meu relógio fora, joguei fora minhas antigas roupas, e tudo que me prendia ao passado.
Os discos, os livros, e tudo mais que fazia parte de mim.
Doeu, doeu muito abrir mão de tudo o que eu era, de tudo o que eu amava, de tudo o que era meu chão.
E agora? Estou aqui, sentada na sarjeta, com as gotas da chuva molhando o meu rosto, e libertando o último resquício do meu passado que ainda sobrevive em mim.
Eu vi pernas indo e vindo a noite inteira, algumas paravam, observavam e iam embora. Aqui ninguém pára por muito tempo, aqui ninguém tem tempo.
O tempo possui as pessoas, e não o contrário. A vida possui as pessoas. A cidade possui as pessoas.
As pessoas não são donas de si, elas se venderam para o tempo, para a vida, para a cidade, para alguém.
Almas vendidas, que vão e vem a cada minuto.
Agora não mais, agora a cidade parou. A cidade dormiu.
Sempre tem alguma alma que ainda perambula por aqui, mas essas são as que não se venderam, as que se mantiveram firme, e agora estão à procura de alguma sarjeta para serem acolhidas, e assim como eu, passarem a noite vendo pernas indo e vindo, carregando almas que não param, não te enxergam, apenas observam alguma vezes.
Agora eu me deito, porque o cansaço me venceu. Estou esperando que algo venha e me tire daqui.
E não leia errado, eu quero algo, e não alguém.
Cansei.
O mundo me cansou, o passado me cansou, essas almas me cansaram.
Por favor, algo, me tire daqui, me leve para o céu, ou para o inferno, mas me tire daqui.

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